Meu celular toca, obriga-me a sair do bar onde, com os amigos, matava mais uma sexta-feira de trabalho e outras preocupações. Na rua, tento fugir do barulho e atendo, o visor já denuncia. Piranha. Ainda liga a cobrar. Desligo na primeira vez, liga de volta. Dessa vez atendo e ouço a música besta da embratel. Oi, oi, como está, bem, e você, o que tá fazendo, bar com os amigos, aí tá certo, ela começa com aporrinhação e eu puto. Não aguentava mais. Marcamos alguma coisa para o dia seguinte. Vou pra roda na mesa do boteco e tomo todas as que queria e mais algumas por culpa dela. Ou minha mesmo. Quando começou a ficar assim? Quando dei motivos ou procurei essa relação? Nunca soltei um "te amo", nem mesmo um "gosto de você". Era um cara sincero em minha canalhice e achei que isso bastasse.
Poderia dizer sem mentir que, sim, a amei, amei no momento em que abria aquelas pernas e entrava dentro delas, no momento em que nos embrenhávamos na cama, quente, urgente. Uns quinze minutos em que eu poderia dizer essas palavras bonitas ao invés de simplesmente gritar palavrões. Mas eu sabia que dizer essas coisas afastaria todas possibilidades de fodas futuras. Na atual situação, significava muita coisa. Fiquei nos palavrões.
Então no sábado não apareci, como de costume. Atendi o telefone e dessa vez reclamei das ligações a cobrar.
Aquilo tudo estava me saindo caro e eu não me referia só a créditos de celular.
Ignorei alguns e-mails, dei desculpas vazias, arrumei coisas pra fazer. Eu não queria acabar assim mas não tinha coragem, ou, posso dizer, tinha, mas não era tão filha da puta assim. Era só um cara normal buscando um pouco de diversão, sem promessas, compromissos, preocupações, peso. Liberdade e leveza pareciam cada vez mais difíceis. Eu que nunca alimentei esperanças de ninguém.
Então senti que fazia com ela o que outras já tinham feito comigo tantas vezes. Minha raiva e tristeza se transformaram em alguma coisa que não entendo. Talvez em entendimento, simplesmente.
quarta-feira, 12 de março de 2008
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